Citando Braga (Braga, 2022), no livro Constelações Sistêmicas e HQI

Constelação Sistêmica


"Constelação Sistêmica Constelação Sistêmica é uma intervenção terapêutica, pontual e focada no tema do cliente. Ela abrange diversas áreas: a familiar, a organizacional ou empresarial, a pedagógica, a jurídica e a gemelar. É um trabalho que pode ser realizado individualmente ou em grupo e parte do princípio de que muitos sofrimentos humanos têm sua origem na história da família, assim como na história de cada sistema, seja ele familiar ou não. De acordo com o psiquiatra húngaro-americano Ivan Boszormenyii-Nagy, existe uma contabilidade familiar, um livro de contas invisível, onde estão escritas dívidas e créditos em relação aos eventos ocorridos no passado. É um senso de justiça que nos guia, são lealdades invisíveis, uma contabilidade subjetiva, onde podemos perguntar: Quem está conectado com quem? Que destinos estão em jogo? Quem deve para quem? E eu sou leal (inconscientemente) a quem? A quem estou honrando? Essa linha de pensamento nos conduz, também, a refletir sobre o futuro dos membros de uma família: Quem se ligará a quem? Quem dará? Quem receberá? Quem perderá? Quem ganhará? Quem fracassou? Quem fracassará? A situação, no entanto, é mais complexa do que se imagina. É necessário pensar, por exemplo, nas neuroses de classes, que tem a ver com questões raciais, culturais, religiosas, políticas; pensar nas repetições que envolvem até mesmo datas semelhantes, períodos semelhantes aos dos antepassados, mesmo que desconhecidos pela geração atual. A esse tipo de repetição em datas específicas, chamamos de síndrome de aniversário. Anne Ancelin Schützenberger, em seu livro !Ai, mis ancestros!, aborda a complexidade dos envolvimentos sistêmicos, o como estamos conectados com nossos ancestrais, repetindo, seguindo, carregando em nosso corpo, com doenças, com misérias, com fracassos, em nossa própria história, a saga de muitos deles. Ela traz inúmeros autores que, ao longo do século passado, trabalharam com conceitos psicogenealógicos, mostrando esses tipos de envolvimentos que não nos permitem a liberdade. As funções psíquicas de um membro da família influenciam e condicionam a dos outros membros (Boszormenyii-Nagy). O trauma, como diz Franz Ruppert, nos cria dificuldades em relação à capacidade de diferenciação, de perceber o que está fora e o que está dentro de nós, de saber o que é passado e o que é futuro. Na verdade, o futuro é sempre o passado. Ele cria danos em relação à memória, à vontade, à decisão, às funções mentais superiores, em relação à própria identidade. Em nosso país, por exemplo, temos uma história de grandes traumas com nossa colonização; vivenciamos o extermínio e a escravidão. A espoliação pelos portugueses de nossas terras, nossas riquezas, nossos índios, povo que aqui habitava. E posteriormente, os negros que vieram da África, como escravos. Lembramos que o Brasil é um país profundamente miscigenado e a população negra e parda é, neste sentido, maior que a branca de origem europeia, “pura”. E dos europeus e asiáticos que vieram substituir a mão de obra negra escrava, a maioria não teve o sucesso e a riqueza que esperavam. O que está no inconsciente coletivo do brasileiro? A dominação, a miséria, as limitações ou a liberdade, a expansão, a prosperidade? “Os negros vieram em navios e viveram durante anos em cativeiro, tratados como bichos por aqui. Os primeiros a serem livres, foram os que puderam comprar cartas de alforria. Depois vieram as leis: sexagenário, ventre livre. Mas as dores continuavam e, de certa forma, ainda continuam. O cativeiro também, para muitos e muitos brasileiros. Como quebrar o ciclo de miséria e dependência?” (Braga, 2012) Os pais, na linha direta, têm um peso significativo em relação ao sucesso x fracasso em nossa vida. Essa é uma ligação onde o equilíbrio se mostra com muita clareza. Não é necessário, portanto, ir tão longe na ancestralidade, pois a relação com os pais é uma espécie de baliza, em se tratando de prosperidade. Além do fato de que as subjetividades de uma pessoa, suas necessidades, obrigações e atitudes passam pelos processos psíquicos individuais e pela infância desse indivíduo, onde estão (ou não), com toda força, seus pais. Se há traumas, esses manifestar-se-ão no futuro, de um modo ou de outro. O trauma de simbiose determina distúrbios psíquicos. Essa simbiose é com a mãe, mas também com o pai. Olhamos, ainda, para a morte dos pais ou de um dos pais como trauma que pode trazer grandes consequências negativas para o indivíduo, assim como as adoções e doenças ou o distanciamento de um dos pais nos primeiros anos da vida da criança, trazendo mazelas com o fluxo do amor interrompido (Braga, 2019). Na perspectiva das constelações, além das dinâmicas ocultas que envolvem a inconsciência, há aquelas mais conscientes onde o cliente, completamente identificado com seus sofrimentos, não abre mão deles e dos julgamentos e expectativas em relação a seus pais ou a um dos dois, do par parental. Nesses casos, a dificuldade de sair do emaranhamento e de conseguir galgar novos horizontes é ainda maior. As constelações possibilitam um mergulho nessas relações e, como se reorganiza o campo, olhando para as leis do equilíbrio, da pertinência e da hierarquia, observamos todo potencial de mudança que elas trazem para uma pessoa. No entanto, em muitos casos, são necessários outros tipos de acompanhamento, como o psicológico e o médico. Citando Braga (Braga, 2019), no livro Constelações Sistêmicas, diversos olhares para diferentes realidades, “o sofrimento está sempre no presente, porém, conectado a algo que veio antes, por vezes, muito antes. Estamos todos conectados, consciente ou inconscientemente. A constelação possibilita o acesso àquilo que está oculto e que não é compreendido, nem percebido pelos membros do sistema, mas continua atuando e causando sofrimento. O oculto pode ser revelado e ganhar uma ‘nova ordem ’, um novo status dentro do campo, que é um organismo vivo, que aprende e muda”. E como diz Rita Gaona, no mesmo livro, “Embora as constelações sejam consideradas como breves intervenções, elas alcançam esse campo morfogenético, no qual o ser humano está inserido, afeta e é afetado, por trazerem à luz informações e emaranhamentos do cliente em relação ao seu sistema familiar ou mesmo seus emaranhamentos pessoais, na repetição de seus próprios traumas que não tenham origem sistêmica [...]. Os emaranhamentos relacionados ao sistema são chamados de ressonância mórfica, enquanto os emaranhamentos consigo mesmo podem ser nomeados de autorressonância”. As três leis sistêmicas sistematizadas por Bert Hellinger, autor de muitos livros sobre Constelações Sistêmicas, são o Equilíbrio, que diz que existe um equilíbrio de trocas. Quando ele é desrespeitado, há sofrimento. A lei da Hierarquia, que quer dizer que em todos os sistemas há uma ordem de chegada, de precedência e prevalência. E a lei do Pertencimento, que diz que todos têm o mesmo direito de pertencer. Qualquer exclusão, dentro do sistema, traz consequências para quem vem depois que, numa tentativa vã, infantil, com o pensamento mágico, tentará compensar, equilibrar, incluir ou desafiar a hierarquia, se emaranhando com os eventos do passado. É interessante refletir que, na literatura da Psicogenealogia, há repetições de eventos traumáticos de até 8 gerações, envolvendo, inclusive a síndrome de aniversário, que traz informações de semelhanças de morte, de época em que as grandes dificuldades acontecem na vida da pessoa, mesma idade, por exemplo; o mesmo tipo de desordem física ou mental, o mesmo tipo de desgraça. De um modo geral, como consteladoras, nós, mesmo trabalhando dentro da perspectiva fenomenológica, quando aparecem eventos traumáticos claros, em uma constelação, buscamos informações até a terceira geração, pois é o que a maioria dos brasileiros consegue alcançar. No entanto, muitas vezes estamos diante de fatos que se repetem há mais de 5 gerações. Como culturalmente, não buscamos nossa história, acabamos perdendo informações importantes e preciosas, inclusive que possam auxiliar a “quebrar” os padrões de repetição. "